Estudante
negro cotista se forma com o melhor desempenho da turma
Publicado
há 2 dias - em 10 de março de 2016 » Atualizado às 10:44
Categoria » Afro-brasileiros e suas lutas · Cotas Raciais
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Edgar Nascimento teve a melhor nota média no curso
de Engenharia Mecânica
Texto: Pedro Borges / Edição de
Imagem: Vinicius Martins, do Alma Preta
“O percurso até minha formação
foi muito difícil, mas eu sempre me dedicava em todas as matérias. Trabalhar de
dia e estudar a noite realmente não é fácil”. Edgar Nascimento, 23 anos,
morador do Jardim Helena, Zona Leste de São Paulo, é agora engenheiro mecânico
formado pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Edgar tinha o sonho de entrar na
Escola Preparatória de Cadetes do Exército. E foi durante os estudos para
seguir carreira militar, que o jovem descobriu algo novo, o carinho e a aptidão
com os números. O grande tempo dedicado foi a medida necessária para o
estudante ingressar no curso de Engenharia Mecânica pelo sistema de cotas via ProUni, na Universidade Cruzeiro do Sul no ano de 2010.
Apesar das dificuldades durante o
curso, como a necessidade de trabalhar, Edgar se sobressaiu na turma desde o
início. “No meu primeiro ano me destaquei e fui convidado pelos professores a
ministrar monitorias para os alunos que tinham dificuldades. E assim foram os
cinco anos de estudos, finais de semana estudando para as provas e noites em
claros fazendo trabalhos”.
Mesmo com o Prouni e o sistema de cotas, a quantidade de
estudantes negros na sala de aula e mesmo nos demais cursos era ínfima. “Na
minha turma no início éramos em quatro negros porém infelizmente apenas eu e
mais um colega concluímos o curso”. Mesmo sem números exatos, o jovem
engenheiro ressalta. “É visível que o número de negros estudantes na minha
universidade é pequeno”.
Cotas e
Fraudes
As cotas raciais nas
universidades brasileiras entraram em vigor em 2003, com a iniciativa da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. Desde então, uma luta é travada
para que outras instituições de ensino superior adotem o sistema e aumentem a
presença de afrodescendentes nas salas de aula.
A implementação da lei 12.711 no
ano de 2012 obrigou todas as universidades e institutos federais a adotar o
sistema. De acordo com os dados da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, SEPPIR, cerca de 150 mil jovens negros entraram nas
universidades federais via cotas raciais. A medida vige também no Programa
Universidade para Todos, ProUni, e no Fundo de Financiamento Estudantil, FIES, fatores que propiciaram o aumento
significativo de pretos e pardos nas instituições de ensino superior. O
Ministério da Educação, MEC, apresenta também que tanto no FIES, (50,07%),
quanto no ProUni (52,10%), a maior parcela dos beneficiários é composta por
negros.
Para Edgar, as cotas são
fundamentais para um país como o Brasil, marcado pelo racismo desde a criação
do seu Estado. “A política de cotas é muito importante. O país tem uma extensão
territorial gigantesca e existem muitos negros que não têm a oportunidade de
ingressar em diversas carreiras”. Ele ainda completa que, “se a cota existe é
porque de certa forma não tem igualdade”.
Em universidades elitistas, como
as estaduais paulistas, a porcentagem de estudantes negros é ínfima. Dos 10
cursos mais disputados para o vestibular da USP de 2015, enquanto 74,7% dos
ingressantes eram brancos, 18,3% eram negros. Destes, somente 3,5% eram pretos.
Mesmo diante dessa realidade e da
importância das cotas para que mais negros ocupem os espaços públicos, muitas
são as denúncias de fraude no Brasil. No Espírito Santo, o Coletivo Negrada fez
denúncia ao Ministério Público Federal por conta da falsa autodeclaração de
estudantes brancos.
Sobre isso, Edgar pensa que a
maior fiscalização é uma possível saída. “A definição de cor ainda é por
autodeclaração e isso abre margem para muitas fraudes. Pessoas que se sentem no
direito de tirar uma vaga, que por uma dívida histórica pertence a uma pessoa
negra. Esses casos devem ser mais investigados e divulgados. Não só fraudes em
universidades, mas também em concursos públicos”.
Leia a matéria completa em: Estudante negro cotista se forma com o melhor desempenho
da turma - Geledés http://www.geledes.org.br/estudante-negro-cotista-se-forma-com-o-melhor-desempenho-da-turma/#ixzz42j7EUJvO
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