Tensões entre EUA e México aumentam após envio da Guarda Nacional para conter protestos contra operações migratórias

A crise migratória nos Estados Unidos voltou a esquentar. Nos últimos dias, milhares de pessoas tomaram as ruas de Los Angeles e outras grandes cidades americanas em protesto contra as ações do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega), especialmente na Califórnia — um dos estados mais relevantes economicamente e culturalmente no país, historicamente sustentado pelas comunidades migrantes.

A resposta do governo Trump foi imediata e pesada: cerca de 4 mil soldados da Guarda Nacional e centenas de fuzileiros navais foram enviados para conter as manifestações. O governo da Califórnia, por sua vez, condenou a medida, considerando-a não apenas exagerada, mas até ilegal.

A tensão entre os governos de Washington e do México — de onde vêm a maioria dos imigrantes, documentados ou não — se agravou. Em meio às manifestações, muitos exibiram bandeiras mexicanas, o que motivou uma declaração polêmica de Trump:

“São animais que carregam bandeiras estrangeiras.”

O presidente ainda ameaçou acionar a Lei de Insurreição de 1807 para mobilizar as Forças Armadas contra os protestos, caso eles continuem.

Especialistas apontam declínio da influência dos EUA

De acordo com Miguel Ángel Valenzuela Shelley, especialista em relações internacionais da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), o que estamos presenciando é mais um capítulo do enfraquecimento dos EUA como potência global. Ele afirma que o país vem enfrentando uma crescente polarização social e perda de influência geopolítica.

“Há uma decadência cultural, radicalismo interno e uma queda na relevância internacional. O slogan ‘Make America Great Again’ não passa de um vazio retórico”, disse Shelley.

Já o consultor Luis Huacuja lembra que Trump, em seu segundo mandato, ainda não conseguiu consolidar suas políticas — com destaque para o fracasso em encerrar o conflito na Ucrânia e para os tropeços na política comercial. Ele também alerta: atacar a comunidade migrante pode ser um tiro no pé, já que muitos latinos, inclusive, votaram em Trump nas últimas eleições.

Migrantes como alvo antigo — mas agora sem freios

A socióloga Raquel Saed, também da UNAM, lembra que a hostilidade de Trump aos migrantes não é nova, mas o atual governo está ainda mais radical.

“Antes ele tinha assessores que colocavam limites. Agora, está cercado por gente que o incentiva a ir além”, diz.

Ela destaca que a meta de deportar 11 milhões de mexicanos é simplesmente inviável. Para ela, as ações atuais têm raízes racistas e são influenciadas diretamente por Stephen Miller, um dos principais arquitetos da política migratória trumpista.

Efeito colateral político: Trump pode sair fortalecido?

Para a doutora Claudia Serrano, os protestos podem acabar fortalecendo Trump em algumas bases eleitorais, especialmente ao permitir o envio de tropas para estados tradicionalmente democratas. No entanto, ela alerta que a reação das comunidades migrantes pode ser decisiva na balança política.

“O discurso de ‘grandeza nacional’ esbarra numa realidade fragmentada. A falta de coesão entre estados e governo federal pode abrir rachaduras importantes.”


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