Um campo emergente de pesquisa que pode ter
implicações importantes para a sociedade tem se dedicado ao estudo de como o
cérebro reage a processos e imagens de pessoas de diferentes grupos raciais. A
psicóloga Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, que em 2000 coordenou
um dos primeiros estudos da área, fala à Nature sobre o que a sua mais recente
revisão do campo revela sobre a neurociência das raças.
Um campo emergente de pesquisa que pode ter
implicações importantes para a sociedade tem se dedicado ao estudo de como o
cérebro reage a processos e imagens de pessoas de diferentes grupos raciais. A
psicóloga Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, que em 2000 coordenou
um dos primeiros estudos da área, fala à Nature sobre o que a sua mais recente
revisão do campo revela sobre a neurociência das raças.
P. O que a psicologia nos diz sobre as raças?
R. Os psicólogos sociais fazem uma distinção entre as
atitudes que as pessoas expressam e as suas preferências implícitas. Isso pode
ser feito por meio do uso de um teste de associação implícita, que mede
respostas iniciais, avaliativas. Trata-se de pedir às pessoas que combinem
conceitos como preto e branco com conceitos como bem e mal. O que descobrimos é
que a maioria dos americanos brancos leva mais tempo para dar uma resposta que
combina o preto com o bom, o branco com o mau e vice-versa. Isso revela as suas
preferências implícitas.
P. O que a sua revisão da literatura da
neurociência mostrou?
R. Meus colegas e eu descobrimos que existe uma
rede de regiões do cérebro que é ativada de forma consistente em estudos de
neuroimagem de processamento de raça. Essa rede coincide com os circuitos
envolvidos na tomada de decisões e na regulação da emoção, e inclui a amígdala,
a área fusiforme facial (FFA), o córtex cingulado anterior (ACC) e o córtex
pré-frontal dorsolateral (CPFDL).
P. O que as suas pesquisas anteriores mostraram?
R. O nosso estudo de 2000 foi o primeiro a vincular
a preferência racial à atividade do cérebro. Nós medimos o sobressalto do
piscar de olhos, uma reação de reflexo que as pessoas têm quando ouvem um
barulho, por exemplo. Muitos estudos têm mostrado que esse reflexo é
potencializado (intensificado) quando as pessoas estão ansiosas ou na presença
de algo que acham que é negativo. Descobrimos que as preferências implícitas
estão correlacionados com a potencialização desse sobressalto, e que ambas
estão correlacionadas com a intensidade de ativação da amígdala.
P. Como a neurociência se adequa ao modelo
psicológico?
R. A atividade no FFA não surpreende, porque todos
esses estudos utilizam fotos de rostos. A amígdala tem envolvimento com todas
as emoções, e pode estar ligada às avaliações automáticas que fazemos quando
vemos pessoas de outros grupos raciais. Achamos que o ACC e CPFDL estão
envolvidos em funções mais complexas. As pessoas tendem a mostrar indícios não
intencionais de preconceito racial, mesmo quando estão motivados a serem não preconceituosas,
de modo que o ACC pode estar envolvido na detecção desses conflitos. Pode-se
ter um viés implícito e optar por não levá-lo adiante, e o CPFDL talvez tente
regular as reações emocionais que entram em conflito com os nossos objetivos e
crenças igualitários.
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