Os negros estão em todo o mundo chocados com a morte de Nelson Mandela. Mas a sociedade americana, com suas leis impares, seu senso de igualdade (canhestro na verdade, mas com uma justiça relativamente funcional), seguramente foi fonte de inspiração para este herói da humanidade que se foi ontem. É oportuno, para todos que estão engajados nesta luta contra o preconceito e o racismo, repensar suas ações e atitudes. É oportuno esta publicação, retirada do Blog do Luis Nassif e enviada Tamára Baranov, conforme créditos. É para refletir. Nosso amado pais – o Brasil, continua produzindo e cada vez em maiores quantidades strange fruits. E elas são justificadas por autos de resistência, por chacinas sem motivo, por mortes e mortes seletivas, causadas por covardes esquadrões de morte, milícias e sobretudo pelo preconceito odioso das grandes empresas (cito novamente o Natal Branco da Sadia, Perdigão, Bradesco – este comercial deveria ser retirado do ar, são crianças apenas) os Correios, o Boticário, e cerca de 80% do que é veiculado na mídia brasileira, que insiste e quer esquecer sua parte africana – que esta na diáspora, viemos como escravos, a força. É preciso um gesto, uma ação conciliadora e inclusive como NELSON MANDELA fez na África do Sul. Senão, a resposta será armas! Ainda apenas nas mãos dos brancos, mas se nada for feito, Helio Jaguaribe terá razão. Vamos precisar nos armar, para defender nossos filhos e irmãos – e NÃO QUEREMOS ISTO, MAS NÃO PODEMOS CONTINUAR A ASSISTIR A MORTANDADE SEM SENTIDO DOS NOSSOS MENINOS. Precisamos da mídia, dos canais de TV, aberto ou fechado, pelo menos respeitar o Estatuto da Igualdade Racial. Algo precisa ser feito para deter o ódio e a discriminação racial neste Brasil, a segunda maior nação negra do mundo.

Se o governo federal não estiver atento, será uma COPA DO MUNDO de brancos apenas. Olhe os apresentadores do sorteio, todos branquinhos e louros. Isto não será tolerado. Temos que promover a inclusão, a solução para o Brasil é a solução NELSON MANDELA – INCLUSAO DE TODOS, somos um povo mestiço e pronto. Agora apreciam o texto. É duro, ouçam a musica. É cruel. É uma cruel e perversa realidade que é comum entre seres humanos, até de mesma raça. Mas precisamos refletir, negar e reagir, não somos frutos, SOMOS SERES HUMANOS.

---------------------------------------------------------------------------


Enviado por Tamára Baranov, qui, 05/12/2013 - 09:13

Enviado por Tamára Baranov

Do Vermelho.org

Por José Carlos Ruy

A cantora é simplesmente genial - Billie Holiday. O autor é Abel Meeropol, um professor de inglês no Bronx, bairro de Nova York, que assinava poemas e canções com o pseudônimo Lewis Allan. O tema é assustador: o linchamento de negros nos Estados Unidos, comuns há algumas décadas. Esta é a receita que resultou num dos maiores clássicos da canção de protesto nos EUA: Strange Fruit, cuja história está contada no livro Strange Fruit: Billie Holiday e a biografia de uma canção, de David Margolick, que a editora Cosac Naify lançou em português. A música, composta aí pelo final de 1937 foi gravada, originalmente, por Billie Holiday em abril de 1939 e logo apresentada em público no Café Society, uma espécie de clube noturno que reunia socialistas, comunistas, sindicalistas e democratas em Nova York (foi fechado, no começo da década de 1950, pelos caças-comunistas liderados pelo direitista chefe do FBI, J. Edgar Hoover). Foi um choque. Em sua autobiografia, a própria Billie Holiday registrou o impacto: quando terminou de cantar, silêncio total; “então uma pessoa começou a aplaudir nervosamente e, de repente, todo mundo estava aplaudindo”.

Strange Fruit é uma canção inquietante, que sempre provocou adesões fervorosas e rejeições ferozes quando era apresentada. Por um motivo simples, como registra Margolick: ela confronta uma nação, os Estados Unidos, com seus fantasmas mais cruéis.
A menção aos linchamentos é direta, e chocante, e isso faz dela, como disse na época o crítico E. Y. “Yip” Harburg, um “documento histórico”. Outro crítico de jazz, Leonard Feather, tem opinião semelhante: foi “o primeiro protesto relevante em letra e música, o primeiro clamor não emudecido contra o racismo”; com certeza, disse ele, “nenhuma canção na história dos Estados Unidos representa tamanha garantia de silenciar uma plateia ou gerar tanto desconforto”.
Anos mais tarde, a militante negra e comunista Ângela Davis escreveu, em ‘Blues Legacies and Black Feminism’ (Legados do blues e feminismo negro), que ‘Strange Fruit’ devolveu “o elemento de protesto e resistência ao centro da cultura musical negra contemporânea”.
A “fruta estranha” do título e da letra é o corpo dos negros linchados e enforcados em alguma árvore, onde ficavam sangrando, balançando ao vento. Na tradução da letra, publicada neste livro, o tradutor escreveu o verso final assim: “Eis uma estranha e amarga fruta”. Preferi escolher uma versão em português mais ao pé da letra original, que diz “Here is a strange and bitter crop” (Eis uma estranha e amarga colheita), por duas razões. Primeiro em respeito à ênfase que a interpretação de Billie Holiday dava à última palavra, "crop" (colheita); depois por julgar a palavra "colheita" mais adequada para manter o espírito original da canção: enquanto “fruta”, neste último verso, se refere a uma pessoa singular, a palavra ”colheita” se refere a toda uma coletividade “colhida” nas garras da ferocidade racista.

O linchamento de negros, e outras pessoas acusadas de algum crime, era uma espécie de ritual amplamente aceito nos Estados Unidos. Um levantamento conservador indica que, entre 1889 e 1930 ocorreram 3.833 linchamentos, 90% dos quais no Sul, e a imensa maioria eram negros. “Linchamentos tendiam a ocorrer em cidades pequenas e pobres, muitas vezes tomando o lugar, como disse certa vez o famoso jornalista H. L. Mencken, ‘do carrossel, do teatro, da orquestra sinfônica’”, diz Margolick.
Era uma perversa e feroz “diversão” popular. Eles ocorriam em resposta a uma série de supostos crimes, “não apenas assassinato, roubo e estupro, mas também por insultar uma pessoa branca, por se gabar, por falar palavrão ou comprar um carro. Em alguns casos, não havia infração alguma: era apenas hora de lembrar aos negros ‘metidos’ que eles deviam saber qual era seu lugar”, escreveu o autor.

Margolick endossa a suposição de que a inspiração da canção ‘Strange Fruit’ tenha sido uma fotografia que, desde a década de 1930, tem sido uma inquietante denuncia visual daqueles crimes coletivos: o linchamento de dois homens negros ocorrido em Marion, Indiana (no Norte, portanto, e não no Sul...). A foto foi amplamente usada como denúncia contra o racismo e Meeropol provavelmente escreveu seu primeiro poema sobre o assunto inspirado nela, que foi publicado no jornal sindical ‘The New Yorker Teacher’, em janeiro de 1937.
Abel Meeropol e sua esposa eram militantes clandestinos do Partido Comunista dos Estados Unidos, ao qual foram filiados até 1947 mas, mesmo assim, vigiados pelo FBI até 1970. Em 1941 ele foi forçado a depor em uma investigação sobre atividades comunistas - queriam saber quanto o partido pagou pela música, ou se os lucros iam para o partido, mas ele negou tudo. O casal permaneceu ligado aos comunistas e, na década de 1950, adotaram os filhos menores do casal Ethel e Julius Rosenberg, executados na cadeira elétrica em junho de 1953 depois de um controverso processo onde foram acusados de espionagem a favor da União Soviética.

A própria Billie Holiday chegou a ser convocada, na década de 1940, para depor perante uma investigação anticomunista, para explicar-se a respeito da gravação e das frequentes apresentações de ‘Strange Fruit’. Em 1950, Josh White, que havia gravado a música, foi convocado a depor perante o Comitê de Atividades Antiamericanas, coração do tristemente célebre macarthismo.
Billie Holiday morreu ainda jovem, em 1959. Tinha 44 anos e foi devastada pelo abuso do álcool e de drogas. Mas nunca deixou de cantar a canção inquietante que, naqueles anos, foi frequentemente associada à luta por causas progressistas e avançadas. Foi cantada por ela na comemoração do 1º de Maio de 1941, na Union Square, em Nova York. Foi usada, por exemplo, pelo Comitê de Artes Cênicas de Nova York para pressionar os senadores pela proibição dos linchamentos. Na eleição de 1943 embalou a campanha de Ben Davis Jr, o primeiro negro e comunista a ser eleito vereador em Nova York, novamente cantada por ela.

A música popular estadunidense tem inúmeros exemplos de canções e cantores ligados à luta dos trabalhadores e ao protesto social. Um exemplo é Woody Guthrie, o cantor ligado aos comunistas que foi o ídolo da juventude de Bob Dylan; Alfred Hayes e Earl Robinson foram os autores da célebre ‘Joe Hill’, imortalizada por Joan Baez e que conta a história do militante operário condenado à morte em 1915; há ‘What Did I Do to Be So Black and Blue?’, que Louis Armstrong transformou numa espécie de hino da luta contra o racismo. Isto só para citar algumas, de memória... Mas nenhuma se iguala, em influência, desafio e permanência histórica a Strange Fruit.
Strange fruit

Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant South,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

A tradução
Fruta Estranha

Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.

Cena pastoril do heróico sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresco,
E de repente o cheiro de carne queimada.

Aqui está a fruta para os corvos puxarem,
Para a chuva colher, para o vento sugar,
Para o sol secar, para a árvore pingar,
Aqui está a estranha e amarga colheita