Posted: 24 Aug 2014 05:41 AM PDT
- REVISTA RAÇA BRASIL
O debate sobre a questão do elevado número de homicídios, especialmente entre jovens negros no Brasil não pode mais ser adiado. É inadmissível que tortura e execuções sumárias continuem sendo parte das políticas de segurança legitimadas por grande parte dos governos estaduais, muitas vezes com a leniência do governo federal, seja no executivo, legislativo ou judiciário.
Dados alarmantes
A ideia de que somos um povo pacato e
calmo tem ocultado dados que contradizem de maneira determinante esse tipo de
afirmação. De acordo com o ‘Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no
Brasil’, publicado recentemente pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela),
com dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da
Saúde mostram que entre 1980 e 2011, as mortes não naturais e violentas de
jovens – como acidentes, homicídio ou suicídio – cresceram 207,9%. A
violência policial foi mote nas manifestações em todo o país
Se forem considerados só os
homicídios, o aumento chega a 326,1%. Do total de 46.920 mortes, na faixa
etária de 14 a 25 anos, em 2011, 63,4% tiveram causas violentas (acidentes de
trânsito, homicídio ou suicídio). Na década de 1980, o percentual era 30,2%.
Entre 1979 a 2009, o SIM estima que tenha havido cerca de um milhão de
homicídios no Brasil.Outro dado alarmante: Para cada três homicídios que
ocorrem no país, dois são de negros (jovens e adultos). Se tomarmos em consideração
somente os jovens, a probabilidade de um jovem negro ser vítima de homicídio é
3,7 vezes maior em comparação com os brancos.
A partir de 2002, com diferenças
entre as Unidades Federativas do Brasil, a tendência apresentada é de que há
queda no número absoluto de homicídios na população branca e um aumento na
população negra, segundo o Mapa da Violência. Em 2002, a vitimização de jovens
negros era de 71,7%. Em 2010 o índice atingiu 153,9% (ou seja, morrem,
proporcionalmente, 153,9% mais jovens negros do que jovens brancos).
A população negra continua sendo o
alvo preferencial da violência do Estado
A Marcha em Brasília, percorreu da Praça Zumbi dos
Palmares até o Museu da República.
Os dados apresentados acima sugerem
uma grave situação. Se levarmos em conta números absolutos, os homicídios
contra jovens negros no Brasil poderiam ser considerados uma questão humanitária.
Vivemos um genocídio silencioso, uma guerra racista contra pobres em um país
que teima em afirmar que não existe racismo. Claramente isso não condiz com os
números e as pesquisas, de maneira geral, no campo da sociológica da violência.
Precisamos nos perguntar se não estamos, na prática, vivenciando uma guerra
civil não declarada, um genocídio racial velado. Para além do homicídios, esse
sistema perverso e seletivo de controle social tem se expressado também nos
altíssimos índices de encarceramento da população negra no país, que não para
de crescer, mesmo quando os crimes cometidos sugerem que um número importante
deles não deveria estar em regime de prisão fechado. Mais
de 3 mil pessoas caminharam pela Avenida Paulista em São Paulo durante a
O combate à criminalidade não pode
ser feito com sucesso sem passarmos por grandes mudanças na estrutura
socioeconômica da sociedade. É preciso que deixemos os modelos repressores e
punitivos e passemos à construção de políticas mais humanas e inclusivas com
urgência. A desmilitarização das polícias se faz nesse contexto, uma das pautas
centrais do debate público e das eleições que se aproximam. O genocídio de
pobres, negros e índios no Brasil tem que parar.
Com o slogan “Reaja ou será morto (a)”,
a marcha aconteceu simultaneamente em 19 estados brasileiros e em 15 países,
durante todo o dia 22 de Agosto. Assumindo a tarefa de lutar,
resistir e construir um projeto político do ponto de vista do povo negro, sob o
tema “a luta transnacional contra o racismo, a diáspora negra contra o
genocídio”. Em Belo Horizonte, centenas de pessoa foram às ruas
em combate à mortalidade da juventude negra
“Sem o fim do racismo a sociedade
brasileira não vai ser emancipada”, afirma Katiara, do coletivo Quilombagem,
que também abordou a questão da implementação de política públicas de saúde da
população negra, outra segurança pública que não tenha práticas da ditadura e o
direito de existir com dignidade: “a gente quer trabalhar o mito da democracia
racial que foi o principal motivo do surgimento do movimento negro no Brasil,
para denunciar que nesse país não existe democracia racial”.
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