O BRASILEIRO QUE VOA



Ângelo  Assumpção voa e encanta, como Santos Dumont.




Conheci este menino  por acaso, vendo  num programa dominical  as futuras estrelas do  esporte brasileiro. E justamente  possível estrela num esporte de brancos e exclusivamente brancos racistas. Mais ou menos como as irmãs Williams no tênis – que a mídia brasileira nem as citam. Não se fala mais na televisão brasileira de tênis feminino, a não ser quando  Saparova vence. Vênus e Serena Williams são estrelas desconhecidas de todos os meninos e meninas brasileiros. 

Mas voltando a jovem possível estrela, notei sua cor, graça, força e proposito naquele clarão que passa assim: poxa, um negro jovem, raçudo, corajoso, estou torcendo por ele então. E nunca mais ouvi falar nele. Depois do trunfo do  Zanetti  nas olimpíadas  e copas do mundo – nunca dei atenção ao marrento campeão de salto, irmão da Daniele Hipólito, não  acredito que ele representa o Brasil, passei a visualizar mais o atletismo, mas sem grande atenção. Os tempos de Dayane dos Santos se passaram e neste pais racista, ninguém mais fala nela.
Qual foi minha surpresa ao acessar a net e ver lá um negro  voando, saltando, fazendo belíssimas piruetas no ar e pousando qual garça, qual água? O menino Ângelo Assumpção!
Orgulho, admiração e encantamento encheram meu coração e então passamos a saber mais dele. E cada nova palavra ou visão, me orgulhava ainda mais. Vencedor, rompedor de barreias, herói nacional. Medalha de ouro no salto sobre cavalo, na copa do mundo de ginastica, etapa de são Paulo!

Sua mãe, pai, tias e todos orgulhosos, como são as famílias negras, que sem os pais e tias, não somos nada. Ele feliz, todo sorriso, amenizando dificuldades, herói mirim que é. Sua mãe em estado de graça.
E seu clube, notadamente racista, que apesar de tudo o apoiou  nestes anos todos, teve sua recompensa. Observem, nem convocado ele foi, estava na reserva de outro branco. Que adoeceu e  sua vaga foi preenchida por ele. E ganhou com sobra.
Toda a imprensa esperava por um ato racista,  uma reclamação qualquer para um grande destaque, para lembrar-lhe e lembrar-nos que ali estava mais um negro chegando ao topo.

Presente este que seus colegas de seleção: e que seleção temos, todas ou na sua grande e esmagadora maioria, composta de bem nascidos e brancos. De elite. Não são tão brasileiros a ponto de permitirem a chegada dos seus irmãos de cor – que é a maioria dos brasileiros – coloreds.

Então, num momento de ódio puro – não acredito em brincadeiras,  aproveitam para falar o que querem nestes brincadeiras racistas – comparam-nos todos nós negros a sacos de lixo, a uma dicotomia burra e imbecil de cores padronizadas internacionalmente. E ainda postam na net, querendo mostrar a todos sua  inconformação por terem um negro melhor junto a eles. Agiram de má fé e manifestaram o mais puro racismo que a elite brasileira tem e sente por seus irmãos.
O treinador do branco Zanetti é negro. E pai de um dos racistas brincalhões. Este é o paradoxo do Brasil. Negros de pele branca e brancos de sangue negro confundem sua ascendência e se portam como racistas. Pegos na malha implacável da natureza, fingem não serem o que são, seus ancestrais ficam em casa com sua cor diversa, dando permissivas para suas atitudes de ódio.

E suave, e rápido veio a resposta típica de uma sociedade mista que precisa discutir e resolver a questão racial: o negro  aparece dando  perdão, permissivas reais, para mais ataques a sua cor. Constrangido e sem graça, ele se junta forçosamente a seus algozes, forçado a se virar contra todos de sua raça que se sentiram tão ou mais ofendidos que nosso herói. Merda.

Suspensão de três meses para os racistas. Apenas isto e mais  nada. E agora imaginem o ambiente que ficou para o jovem e único negro da equipe.

Se for herói realmente e tão novo, tão recém chegado e já enfrentando  mais este teste, mais um terrível teste de sua jovem vida de negro que sonha e luta, sairá vencedor. Torço ainda mais por ele.


Campeão de salto, campeão da vida. Vida longa a Ângelo Assumpção!
Em homenagem a estas duas irmãs cujas vidas seriam forte inspiração a milhões de mulheres negras de todo o mundo, especialmente as meninas e mulheres negras brasileiras, tao discriminadas, humilhadas e ofendidas.  E a este jovem campeão, que continue sua luta e obtenha vitorias e vitorias. Jamais se importando  com os que odeiam.