1 milhão e meio de afro-americanos
mortos ou encarcerados nos EUA
autorizado, Portal Geledes
Um em cada seis homens negros está preso ou morre de forma prematura. Nesse contexto se registram as ocorrências de violência que têm lugar em Baltimore, Estados Unidos. |
Publicada em 11:00 08/05/2015 - por: Silvia Arana
Uma análise do jornal estadunidense
The New York Times ressalta esta alarmante cifra: 1.500.000 afro-americanos
eliminados da vida cotidiana. Um em cada seis homens negros de 24 a 54 anos
desapareceu da sociedade estadunidense, por morte prematura ou encarceramento.
O homicídio ocupa o primeiro lugar
como causa de morte dos homens negros jovens. Quanto ao encarceramento,
recordemos que os EUA têm o recorde de presos no mundo: com 5% da população
mundial possui 25% da população encarcerada. Dos 2,3 milhões de presos quase
40% são afro-americanos, que só representam 12,6% da população total. É seis
vezes mais provável que seja preso um homem negro do que um branco.
Além dos 1.500.000 homens negros
mortos em idade precoce ou presos, vários milhões a mais são marginalizados da
sociedade pelo desemprego, a discriminação racial ou as sanções que impedem que
uma pessoa com ficha policial consiga trabalho.
Esses dados provêm do último censo
realizado nos EUA. Mas não refletem uma nova realidade. Esse fenômeno foi
registrado por todos os censos dessa nação há 50 anos. Só houve uma variante na
razão do "desaparecimento" social. A partir dos anos 1980, houve uma
leve diminuição das mortes prematuras e um drástico incremento do encarceramento
de afro-americanos, muitos por delitos menores, como posse de droga.
Desigualdade econômica
Os Estados Unidos são a nação
desenvolvida com a maior brecha – desigualdade econômica – entre ricos e
pobres. A desigualdade de riqueza (rendas, bens imobiliários, contas bancárias)
é ainda maior do que a desigualdade de renda. 3% das famílias com maior riqueza
possuem mais do dobro que os 90% das famílias com menores recursos. Esta brecha
tem aumentado continuamente desde o fim do século XX até hoje.
Quanto à desigualdade de riqueza por
raça, vem se acentuando desde a Grande Recessão.Com a explosão da bolha
imobiliária de 2007, as famílias negras foram as mais afetadas pelos
empréstimos bancários depredadores. Da mesma forma que pelo desemprego subsequente.
Até o fim do século XX, a família branca média tinha uma riqueza seis vezes
superior à da família negra. Hoje, a lacuna duplicou: a família branca média
possui 12 vezes mais do que a negra. A pronunciada desigualdade econômica dos
afro-americanos segue se agravando.
"Estado de emergência"
Assimqualifica a situação atual a
organização Black Lives Matter (As vidas dos negros importam sim). Afirma que
os departamentos de polícia declararam guerra contra a comunidade negra. Cita
os numerosos casos de violência policial que causaram a morte de homens,
crianças e mulheres. (Alguns desses casos de "gatilho fácil" foram
registrados em vídeo.)
Identifica três tipos de violações
dos direitos humanos dos negros nos EUA: assassinato, encarceramento massivo e
exploração econômica, perpetrados pelo Estado e as corporações.
A Black Lives
Matter demanda:
O fim de toda forma de discriminação
e o reconhecimento dos direitos humanos dos afro-americanos.
Que acabe a brutalidade policial.
A criação de emprego com salários dignos,
moradia e acesso à saúde.
O fim do encarceramento massivo,
organizado pelo complexo industrial das prisões.
Justiça para todos os
afro-americanos: homens, mulheres, trans, gays, lésbicas.
A liberdade de todos os presos
políticos dos EUA.
A eliminação do complexo
industrial-militar controlado pelas corporações privadas para se beneficiarem
com a morte e a destruição dos povos do mundo.
2015: ano de resistência
Para as comunidades negras
organizadas, 2015 é um ano de resistência contra a opressão e de luta
irrevogável pelo direito a uma vida digna.
O professor e ativista Cornel West
resume assim:
"A escalada de morte e
sofrimento na nação negra e pobre, e a maravilhosa nova militância expressada
em Ferguson deve nos motivar a nos focarmos no fundamental: os temas de vida e
morte, como os assassinatos policiais, a pobreza, o encarceramento massivo, os
drones, o TPP (tratados comerciais injustos), a vigilância massiva, a
deterioração das escolas, o desemprego, o poder de Wall Street, a ocupação israelense
da Palestina, a resistência Dalit na Índia, a catástrofe ecológica”.
Frente às violações dos direitos
humanos da nação pobre e negra será crucial a capacidade organizativa dos
movimentos sociais. A indignação frente aos assassinatos policiais de
afro-americanos tem sido o detonador dos protestos espontâneos de Ferguson a Nova
York, São Francisco, Cleveland, Chicago, Baltimore... As novas organizações –
como "A vida dos negros importam sim", cujas dirigentes principais
são mulheres – tomaram a liderança nas ruas. Substituíram dirigentes de longa
data, como o reverendo Jesse Jackson e o reverendo Al Sharpton, ambos
associados ao Partido Demócrata. As limitações políticas destes dirigentes
havia os impedido de perceberem o estado explosivo das comunidades negras e de
colocarem-se à frente. Somaram-se aos protestos, mas não os lideraram.
Essa nova geração de afro-americanos
tem um enorme desafio pela frente: confrontar o império desde "as
entranhas do monstro", como disse Martí.
Obs:
apartir de hoje, faremos postagens a cada dois dias
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