Mazza:
‘Quero morrer lutando pelo meu povo’
Publicado
há 1 dia - em 22 de fevereiro de 2016 » Atualizado às 16:38
Categoria » Afro-brasileiros e suas lutas · Mulher Negra
Categoria » Afro-brasileiros e suas lutas · Mulher Negra
Mazza
conta que seu objetivo sempre foi lutar contra o racismo por meio de livros que discutem as
questões raciais
Por LUCAS
BUZATTI, do O Tempo
A InaLivros, livraria liderada
por Luciana Bento e por seu marido, Leo, adquire títulos de diversas editoras
brasileiras. Uma delas, destacada pela idealizadora do projeto “100 Meninas
Negras”, é a Mazza Edições, sediada em Belo Horizonte. No mercado
há quase 35 anos, a editora sempre dedicou cerca de 80% de seu acervo para a
temática etnoracial. Antes de tudo, a empresa é fruto da garra e da
persistência de Maria Mazarello Rodrigues,que deixou a cidade natal, Ponte
Nova, para perseguir seu sonho na capital mineira. Hoje, a editora se orgulha
de já ter publicado mais de 500 títulos voltados para a valorização e a
representatividade do povo negro.
Maria Mazarello, a Mazza, defende
que as editoras brasileiras só passaram a dar protagonismo ao negro em suas
publicações depois da Lei 10.639, de 2003, que tornou obrigatório o ensino de
questões raciais e africanidades nas escolas brasileiras, públicas e
particulares. “Depois de 2003, todas as grandes editoras abriram um selo negro.
Agora, você imagina, de 1981 a 2003, como era. A gente pastava. Eu entrava na
escola pelas portas do fundo para tentar vender material”, conta a editora,
hoje aos 74 anos.
“Isso acontecia, e ainda
acontece, porque o Brasil não se reconhece como um país negro. Pior, se diz uma
democracia racial, o que nunca foi. Então, fica essa hipocrisia, de que não
existe preconceito, de que o negro reclama muito, enquanto a polícia persegue e
mata jovens negros todos os dias”, reflete Mazza, que diz louvar ações
afirmativas como o projeto “100 Meninas Negras”. “Todo projeto que trabalha
sério no combate ao racismo é importante, porque é uma frente muito
necessária”, completa a editora.
Mazza destaca discursos como o de
MC Sofia, rapper mineira de 11 anos que versa
contra o racismo em suas letras. “A moçada escuta as músicas dela e fica
interessada. Estimula a criança negra, que sofre demais, a gostar de si mesma”,
afirma. “Hoje, a realidade da criança negra no Brasil ainda é muito sofrida.
Muitas não querem nem ir para a escola, porque sabem que o preconceito ‘come
lascado’ e que a escola faz vista grossa. A criança é alvo de piada, fica
marcada. E na escola particular ainda é pior, porque o número de crianças
negras é bem menor”, diz.
Mazza conta que seu objetivo
sempre foi lutar contra o racismo por meio de livros que discutem as questões
raciais. “Meu sonho é levar esse material para cada vez mais gente, estimulando
os autores negros, ou comprometidos com a questão racial, a escrever”,
sublinha. “Tenho, por exemplo, uma coleção que se chama ‘De Lá Pra Cá’. Ela
reconta as histórias infantis universais, mas com personagens negros. Fadas,
príncipes e princesas, reis e rainhas. O primeiro livrinho é da Rapunzel, que é
uma personagem sempre representada como branca. ‘Rapunzel, lance suas louras
tranças para mim’, isso já limita a personagem a ser branca. Aí o príncipe
também é branco e por aí vai. Fazemos o contrário. Todos são negros, para que
criança se reconheça e trabalhe sua autoestima”, afirma.
Para Mazza, o Brasil vive um
momento de retrocessos e avanços na questão racial. “Quando você vê gente
falando que a Maju (jornalista da Globo) é feia, que o jogador é ‘macaco’, é
porque o sucesso incomoda. É porque ainda querem o negro num lugar de
subalterno”, reflete. “O que a gente não pode é desanimar. Trabalho desde os 4
anos, já era pra ter dependurado as chuteiras há tempos. Mas aí abro o jornal e
vejo: ‘Polícia mata cinco jovens negros após confundi-los com bandidos’. Como
eu paro? Não tem jeito. Não vou descansar. Quero morrer lutando pelo meu povo,
fazendo a minha parte, deixando minha contribuição”.
Leia a matéria completa em: Mazza: ‘Quero morrer lutando pelo meu povo’ - Geledés http://www.geledes.org.br/mazza-quero-morrer-lutando-pelo-meu-povo/#ixzz4123cpp13
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