Era uma menina preta, com os cabelos espichados pelos ferros quentes
modernos, dessas que a gente já foi um dia
Data:
30/12/2018
Noite da chegada ao Rio vou ao Supermercado,
defronte ao hotel fazer umas comprinhas básicas. Os caixas do supermercado
estão em ebulição festiva. As filas quilométricas.
Por
Arísia Barros no Raízes da África
imagem-
Raizes da África
Eu a vi de longe. Era uma menina
preta, com os cabelos espichados pelos ferros quentes modernos, dessas que a
gente já foi um dia.
Trazia nas mãos um pacote de
fraldas e me perguntou se podia passar na minha frente, disse-lhe que sim.
Ao chegar próximo reparei no
olhar, cruelmente observador, da moça do caixa para a menina. Olhava-a da cabeça
aos pés, numa análise social, dessas que a gente preta está cansada de sentir.
O olhar da moça acompanhava a
menina, como a expulsá-la do local. Olhava para o produto que ela tinha nas
mãos e para os trocados que iriam pagar a mercadoria.
Havia uma aspereza tão exposta no
olhar da moça que resolvi questionar seus olhares e fitei-a
ostensivamente e provocativamente para saber qual era o propósito.
Sim, estava disposta a dar-lhe um
troco, com palavras rudes, e esperava uma demonstração mais física..
Ah! Mas é claro que ela não
faria, porque o racismo é esperto o bastante para não deixar rastros e ser
judicialmente, sentenciado.
É o tal do racismo velado, que de
velado não tem nada.
A menina, talvez, nada tenha
percebido, mas, eu vi e aquilo me incomodou muito.
Na hora de passar o produto da
menina, a moça tratou-a como se nada fosse e a menina com uma caixinha de
confeitos na mão pediu:- Veja se meu dinheiro dá para comprar essa caixinha,
também.
A reação da moça foi de uma
insipidez terrível e não ouvi respostas. Ao saber que o dinheiro era
insuficiente para adquirir a segunda compra, a menina começou num choro
lamentoso e perguntei a caixa quanto era a tal caixinha:- Dois reais-respondeu
ela.
Disse-lhe que entregasse a
menina, que foi embora toda contente.
Depois de pagar minhas contas,
saí de lá estranhamente triste.
Sim, ainda estamos sós.
Tags:casos de racismo
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