Precisamos
falar sobre o racismo e a violência dos seguranças do Extra
Date:
15/02/2019
Caso do jovem morto ontem traz à tona denúncias
anteriores e levanta a questão: qual a responsabilidade do Extra, afinal?
Por Karin
Salomão, do Exame
Supermercado Extra, formato de
supermercado do Grupo Pão de Açúcar (Grupo Pão de Açúcar/Divulgação)
Um novo escândalo envolve a rede
de supermercados Extra. A morte de um jovem depois de uma ação violenta de
um segurança é o caso mais recente excesso por parte dos funcionários e
terceirizados da empresa. Mais do que um caso isolado, a morte do jovem indica
falhas nos treinamentos e na gestão da rede varejista e levanta questões legais
sobre quem deve ser responsabilizado nesses casos.
O jovem de 19 anos, identificado
como Pedro Gonzaga, morreu após ser sufocado por um segurança em uma unidade na
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Segundo o Extra, o segurança, terceirizado,
reagiu a “uma tentativa de furto da arma”. “A rede esclarece que repudia
veemente qualquer ato de violência em suas lojas. Sobre o fato em questão, a
empresa já abriu uma investigação interna”, diz.
O GPA afirmou que em nota que “um
grave fato ocorreu na loja do Extra e a rede não vai se eximir das
responsabilidades diante do ocorrido, sendo o maior interessado em esclarecer a
situação o mais rapidamente possível. Os envolvidos no caso foram
definitivamente afastados. O Extra continuará contribuindo com a apuração e
assegura que tomará todas as medidas cabíveis tendo em vista o resultado da
investigação. Acrescentamos que, independentemente do resultado da apuração dos
fatos, nada justifica a perda de uma vida e a companhia se solidariza com os
familiares e envolvidos”.
Esse não é o primeiro caso
envolvendo funcionários e seguranças terceirizados da rede Extra, do Grupo Pão
de Açúcar.
Em 2017, o Hipermercado Extra foi
multado por constranger uma criança negra a comprovar suas compras. O caso
aconteceu em 2011, em uma unidade na Marginal Tietê, em São Paulo. Funcionários
conduziram um garoto de 10 anos para uma sala, onde a criança sofreu agressões
verbais e físicas, muitas delas com teor racista. Ela foi acusada de furto e
constrangida a prestar esclarecimento, apesar de trazer consigo a nota fiscal
dos produtos que carregava.
A empresa foi multada em 458 mil
reais, entrou com recurso, que foi negado. Na ocasião, o GPA enviou a seguinte
nota: “A rede esclarece que repudia qualquer atitude discriminatória e que tem
na diversidade uma importante alavanca social e econômica, respeitando a todos os
seus clientes, colaboradores e parceiros. Sobre o fato em questão, como ele
ainda está em julgamento, o Extra não pode comentá-lo”.
Já em novembro de
2017, funcionários de uma unidade do Extra na Frei Caneca, em São Paulo,
geraram revolta ao usarem perucas de cabelo crespo como uma ação para a Black
Friday, ação ofensiva por caricaturar pessoas negras.
O Extra respondeu, pelo Twitter,
que não houve orientação para essa iniciativa, que foi pontual em uma das
unidades. o GPA emitiu nota dizendo que “não houve qualquer orientação para a
iniciativa retratada e que o caso apontado foi uma ação particular e pontual
ocorrida em uma de suas unidades. Assim que tomou conhecimento, solicitou sua
interrupção imediata”.
Em 2018, um adolescente negro
foi agredido por seguranças do supermercado Pão de Açúcar, depois de
consumir uma barra de chocolate e um Doritos dentro da loja, antes de pagar
pelos produtos.
Em todos esses casos, a companhia
reiterou que há diretrizes estratégicas para combate a qualquer tipo de
discriminação e para promover a inclusão de todos os públicos. Afirmou, a
EXAME, que o Extra participa da Coalização Empresarial pela Equidade Racial e
de Gênero, que estimula a implementação de políticas e práticas empresariais no
campo da diversidade.
Já em relação aos seguranças
terceirizados, o Extra diz que “cumpre com o exigido pela Polícia Federal para
treinamento e reciclagem de seguranças, incluindo em sua periodicidade.
Adicionalmente a isso, realiza periodicamente treinamento para reforçar as
políticas e orientações da companhia sobre procedimentos de segurança em loja e
modos de abordagem”.
A empresa abordou os casos como
ações isoladas.
Mas o Extra e o GPA não são as
únicas empresas envolvidas com casos de excesso de violência ou racismo por
parte dos seguranças. O exemplo mais recente é a morte de um cachorro depois
que um segurança o agrediu, na unidade paulista do Carrefour em Osasco, no dia
28 de novembro do ano passado.
Mais do que expor o excesso de
violência de um segurança terceirizado, o caso da morte do animal demonstrou a
falta de treinamento adequado da rede em lidar com a entrada de animais em suas
lojas. Desde então, a varejista realizou programas de apoio a animais de rua,
entre outras medidas.
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