Mostra em
SP apresenta legado de Abdias Nascimento no combate ao racismo
- 13/11/2016 15h41
- São Paulo
Camila
Boehm – Repórter da Agência Brasil
A partir de 17 de novembro, a exposição Ocupação Abdias Nascimento,
que mostra toda a trajetória do intelectual negro, fundamental para a história
de combate ao racismo no Brasil, estará no Itaú Cultural, na capital paulista.
Ele foi escritor, artista visual, teatrólogo, político e poeta, além de um dos
maiores ativistas dos direitos civis e humanos das populações negras.
A exposição resgata momentos de
sua história, sua participação em grupos artísticos como a Santa Hermandad
Orquídea, o Teatro do Sentenciado, o Teatro Experimental do Negro e o Museu de
Arte Negra, além de grupos de articulação política, social e de pesquisa, como
a Convenção Nacional do Negro, o Memorial Zumbi e o Instituto de Pesquisas e
Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Estarão também representados seus mandatos
como deputado e senador.
Exposição
apresenta, entre outras atrações, pinturas, documentos históricos,
correspondências, discursos, entrevistas, depoimentos, manuscritos e
fotografias de Abdias Nascimento Elisa Larkin Nascimento/Divulgação
Com curadoria do Itaú Cultural e
do Ipeafro, o público poderá conferir o legado de Abdias (1914-2011), que
incluem suas obras teóricas abordando questões relacionadas a lutas sociais,
afirmação de identidades negras e defesa de seus direitos, além de
performances, leituras dramáticas de peças encenadas pelo Teatro Experimental
do Negro (TEN) e o lançamento da reedição do livro O Genocídio do Negro
Brasileiro. Depois de uma grande pesquisa a partir do acervo do Ipeafro, a
curadoria reuniu também pinturas, documentos históricos, correspondências,
discursos, entrevistas, depoimentos, manuscritos e fotografias.
Quatro eixos formam a Ocupação
Abdias Nascimento: A Mulher da Banda de Fora, Teatro Dentro de Mim, As
Borboletas de Franca e Sankofa, que apresentam uma relação entre a produção
artística e política de Abdias, mostrando como ele trabalhou de forma estética
e discursiva com temas como combate ao racismo, pan-africanismo, diáspora
africana, ancestralidade e tradições religiosas e signos de matriz africana.
A curadora e presidente do
Ipeafro, Elisa Larkin Nascimento, que foi esposa de Abdias durante os últimos
38 de vida do ativista, acredita que todo o material produzido por ele é ainda
muito atual, citando o livro O Genocídio do Negro Brasileiro, publicado
no Brasil em 1978.
“Esse título do livro não podia
ser mais contemporâneo, porque é exatamente o que se denuncia quase todos os
dias. Nós estamos vendo a juventude negra ser assassinada pela polícia e pela
violência, estamos assistindo à violência religiosa contra as comunidades e
terreiros. Quase todo dia você tem a invasão ou a depredação de alguma
comunidade, de algum terreiro de candomblé, nós estamos vendo a discriminação
contra os filhos dessas comunidades religiosas nas escolas, tivemos uma menina
que foi apedrejada, enfim, vários tipos de violência”, disse. “O genocídio, quando
vemos a definição dessa palavra, ela não se refere apenas à morte física, mas
também à morte de uma cultura, do legado cultural de um povo. E é isso que ele
[Abdias] diz nesse livro”.
A
exposição Ocupação Abdias Nascimento fica em cartaz de 17 de novembro de 2016
até 15 de janeiro de 2017 Elisa Larkin Nascimento/Divulgação
Trajetória
Aos 30 anos, Abdias Nascimento
havia sido duas vezes preso político; viajado pela América do Sul, a partir do
Amazonas, com os poetas da Santa Hermandad Orquídea; passado um ano no Teatro
del Pueblo de Buenos Aires; e criado dentro do Carandiru, enquanto prisioneiro,
o Teatro do Sentenciado. Na prisão, ele escreveu os livros Zé Capetinha
e Submundo. “Quando apontavam para ele as portas dos fundos, ele não
aceitava”, disse Elisa sobre a resistência de Abdias a situações de
discriminação.
Abdias teve uma extensa atuação
artística no Teatro Experimental do Negro (TEN), criado por ele, de onde também
organizou convenções e congressos para combater o racismo na academia e na
política. Ele assumiu como deputado federal ao lado do indígena Mário Juruna.
Foi senador e secretário do governo do estado do Rio de Janeiro. Abdias continuou
pintando e publicou peças e poesias, além de obras como O Quilombismo, O
Genocídio do Negro Brasileiro e Sitiado em Lagos.
Segundo Elisa, desde criança
Abdias viveu situações que o levaram para o caminho do combate ao racismo.
Nascido na cidade de Franca (SP), em 1914, ele cresceu em meio às fazendas de
café, que haviam substituído a mão de obra de escravos negros por imigrantes.
Na infância, ele acompanhava sua mãe, que, na época, servia como ama de leite
nas fazendas. Lá, havia professores para os filhos dos imigrantes. Elisa disse
que, apesar de gostar de ir à escola e querer estudar junto a essas crianças,
Abdias não podia, porque era negro. “Esses são só alguns exemplos das coisas
que ele passava e que consolidaram nele essa convicção de lutar contra o
racismo”.
A exposição Ocupação Abdias
Nascimento fica em cartaz de 17 de novembro de 2016 até 15 de janeiro de
2017, com visitação de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h, e sábado,
domingo e feriado, das 11h às 20h. A entrada é gratuita.
Edição: Fábio
Massalli
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